quinta-feira, 9 de abril de 2009

Eu ficaria bem velhinho...



Atriz principal: Sebastiana Pontes de Lira
Voz em OFF: minha mãe!

O que não é envelhecer? Ficar velhinho, criar rugas, passar anos e anos vivendo...perguntam-se várias vezes se vale a pena chegar lá...E convivendo com esta senhora...esta mulher q enfrentou a virada de século com muito mais propriedade do q eu, arrisco-me dizer que SIM: VALE A PENA VIVER TANTO TEMPO!

Muitos amigos meus me questionam por exemplo quanto a senilidade...E de certa forma tenho q concordar com eles...Não me parece atraente chegar a terceira idade( ou melhor idade, diz a propaganda do governo!) sem as minhas faculdades mentais...Quero ser um Paulo Autran da vida...morreu tendo planos a cumprir, impedido de continuar sua jornada, como tantos outros jovens, sendo interrompido pelo fim de sua vida...Paulo Autran cumpriu seu ciclo e foi embora...E me despertou saudades, aquele velhinho!

Principalmente porque eu me vi nele antes mesmo de chegar aos 90!
Ator, experiente, rico em sabedoria, gentil nos gestos e falas, amado pelos amigos...e acima de tudo: Jovem!

Mas o foco aqui é outro...é sobre minha bisavó que estamos falando...>

Esta mulher de cabelinhos brancos nasceu em 1912! Atravessou a sua vida sem o gosto pela leitura por nunca ter aprendido a ler. Afinal, a vida de menina interiorana era dura, sem informação, e apesar de tranquila, ignorante...! Porém, das características do interior só ficaram as coisas boas! Não sabia ler, mas valorizava quem sabia! Tranquila, mas ligeira...não se perdia com a falta de graça dos domingos...estava sempre na frente de tudo...E se essa não é a descrição perfeita da minha bisavó, esta foi a imagem que ficou...

Teve 18 filhos que realmente vingaram, entre tantos outros( por volta de 25) que deste mundo nada conheceram...O que a falta de televisão não faz, né? Não pode dar a filha, minha avó( que um dia quem sabe não aparece aqui no blog!) esse gosto, mas tratou de arranjar-lhe um marido que soubesse algo a mais sobre a vida. Meu avó, exemplo de grande homem, era grande em muitas coisas...E o caso de amor entre ele e a minha avó, apesar do casamento arranjado por carta, não cabe aqui discutir...mas foi resultado da pobreza que a minha avó passou...

O engraçado é que, por mais pobre que a família fosse, as coisas se ajeitavam e o aperto que enfretamos sempre durante os anos, as contas, as dívidas, iam sumindo na convivência...Sobraram das lembranças da minha infância junto a minha bisa quando a gente ia visitá-la no interior a bolsa onde ela guardava os seus perfumes, toalhas e talcos...Era um bolsa bem feita com uma modelo francesa desenhada na capa...ou assim parecia...o quarto sempre bem arrumado e uma mulher baixinha, gordinha e raivosa...braaaaaaaava...não era pra menos...eu e minha irmã colocavamos armadilhas pela casa pra que ela caisse...nunca caia...mas ralhaaaaava...comparando com as memórias de hoje, não saberia qual delas me traz mais saudades...O dividor das memórias do passado e das memórias de hoje, que preenchem esses últimos 5 anos, todos os dias, se chama AVC!

Depois do acidente no qual a minha bisavó perdeu o movimento completo do seu lado direito do corpo, ela se mudou pra minha casa, de mala, cuia e bolsa com talco! Toma banho auxiliada por mim ou por alguém que esteja disponível na hora. Come e dorme praticamente todo o tempo e, como que pra nos alegrar, tem as suas mudanças de humor repentinas...em parte causadas pela senilidade, em parte pelas noites mal dormidas, e as vezes é pq ninguém acorda bem todos os dias mesmo...! Mas é sempre divertido encontrar com a minha bisavó! Ela tem sempre coisas engraçadas pra compartilhar, sempre coisas interioranas no vocabulário e UM GÊNIO!!!!


E por todas as razões que me fazem amar tanto essa mulher, me causa estranhamento viver os meus dias com ela, convivendo junto dela as suas dificuldades, meio que me despedindo...A impressão que me dá é que pode ser o último momento que eu a vejo..falo...levanto, sento, dou banho, brigo, brinco...Mesmo que por vezes me passe no pensamento que talvez EU vá antes dela...sabe Deus pra onde...!


Ela, o Paulo Autram e a minha vontade de seguir o curso da vida até o fim de seus intermináveis ciclos, pra que, quem sabe, eu seja o velhinho que dê alegria a outra pessoa algum dia, é que eu digo com convicção: Se eu pudesse...Eu ficaria bem velhinho...!

2 comentários:

  1. Eu desejo a velhice com ou sem senilidade!

    Uma coisa que minha avó, já senil, me ensinou é que basta o fato de estar vivo para ser e representar algo.

    Olhando para ela e conversando com ela [ouseja, sozinho] dá pra sentir o quanto de experiencia de vida ela tem, e o quanto eu ainda posso aprender com ela!

    Perder a sanidade não é o fim, já que os outros carregam na memoria toda a nossa lucidez...

    enfim, quero ficar pra semente assim como minha avó!

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  2. Sei não, ein.
    Sou muito cruel comigo mesmo para me desejar tal com tanta ludicidade misturada com razão. Mas eu sou uma parte do caso... né?

    A propósito (e mesmo que não tenha 'pósito'), aumenta essa fonte. Quase fico cego.

    Abraço.

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